quinta-feira, 19 de janeiro de 2012



Não foi um ar que me deu
Mas algo em mim mudou
A depressão atacou
num sussurro que se lhe deu...

Não a senti chegar
Nem quando se em mim instalou
Sogou-se para dentro daquilo que estava ausente
Por entre os recantos que em mim ignorei

Nos entretantos do tempo algo se perdeu...
enquanto o nevoeiro se instalou e o comboio se moveu

Foi o vento quem o levou....
Num sussuro que não notei

Será que alguém notou?


(Texto inspirado na música de Márcia "A pele que há em mim"
Marion Cotillard na fotografia)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A pele que há em mim (quando o dia entardeceu)

"Quando o dia entardeceu
E o teu corpo tocou
Num recanto do meu
Uma dança acordou
E o sol apareceu
De gigante ficou
Num instante apagou
O sereno do céu
E a calma a aguardar lugar em mim
O desejo a contar segundo o fim.
Foi num ar que te deu
E o teu canto mudou
E o teu corpo do meu
Uma trança arrancou
O sangue arrefeceu
E o meu pé aterrou
Minha voz sussurrou
O meu sonho morreu
Dá-me o mar, o meu rio, minha calçada.
Dá-me o quarto vazio da minha casa
Vou deixar-te no fio da tua fala.
Sobre a pele que há em mim
Tu não sabes nada.
Quando o amor se acabou
E o meu corpo esqueceu o caminho onde andou
Nos recantos do teu
E o luar se apagou
E a noite emudeceu
O frio fundo do céu
Foi descendo e ficou
Mas a mágoa não mora mais em mim
Já passou, desgastei, p’ra lá do fim
É preciso partir
É o preço do amor
P’ra voltar a viver
Já nem sinto o sabor
A suor e pavor
Do teu colo a ferver
Do teu sangue de flor
Já não quero saber…
Dá-me o mar, o meu rio, a minha estrada,
O meu barco vazio na madrugada
Vou-te deixar-te no frio da tua fala
Na vertigem da voz quando enfim se cala.